Amar ou depender?

Ouço, frequentemente, pessoas falarem que não podem viver sem certo alguém, sem determinada pessoa, a partir dessa afirmação que é vista como uma certeza para muitos, me pergunto: o que leva a pessoa ter essa convicção? Quem coloca sua sobrevivência nas mãos de outra pessoa corre sérios riscos. Afinal, como um ser humano pode deter tanto poder sobre o outro? E o que nos leva a acreditar que a felicidade está na outra pessoa?
Na infância, quando pequenos, éramos também dependentes, precisávamos do cuidado de outras pessoas. Assim, o carinho, os alimentos, o aconchego, o cuidado físico e emocional eram oferecidos por fontes externas a nós. Dessa maneira assimilamos, em algum nível, registrando em nossa memória que para sentirmos prazer, acolhimento, alegria e momentos agradáveis a fonte exterior precisaria estar presente. Porém, depois de crescidos, podemos experimentar esse cuidado vindo de nós mesmos. Em diversos momentos da vida podemos olhar para nossas potencialidades, qualidades, desejos, para os mimos que gostaríamos que fizessem conosco e fazermos, nos presenteando com isso. Podemos olhar para dentro de nós e nos surpreender com o que encontramos.
Percebo que muitos relacionamentos estão permeados por vínculos de dependência afetiva, são pessoas cujas vidas se norteiam em prol de seus relacionamentos afetivos e não em função de seu bem estar e de seus interesses pessoais, se fixam no relacionamento e costumam fazer dele o foco de suas vidas. Essa dependência, geralmente, se assemelha ao vício, pois dificilmente a pessoa se sacia, se sente tranquila, a sensação costuma ser de necessidade e não de escolha, de que precisa buscar cada vez mais a presença do outro, de querer proximidade, colocando-o em primeiro lugar, especulando sua vida, pode fazer coisas para agradá-lo independente do que gosta, de suas preferências e quando se dá conta a pessoa já envolveu-se tanto com o outro, de modo a abrir mão da sua própria individualidade, dos seus gostos, suas preferências, seus desejos para se inserir, completamente, na vida do outro. Quando olha para si pode se sentir desinteressada, solitária, entediada, preferindo olhar muito mais para aquilo que está fora dela por, de fato, parecer bem mais interessante. Então, dependendo do momento, olhar para o outro e tê-lo como foco pode ser uma forma de distrair-se de si mesmo.
Isso também pode ser reflexo da baixa autoestima, das feridas que adquiriu ao longo do seu desenvolvimento, da insegurança, do medo da perda e da busca pelo controle a fim de evitar a sensação de solidão, de abandono e de vazio. Dessa forma a pessoa pode confundir a carência ou o apego que sente com amor. Para conseguir se relacionar de forma mais saudável, a pessoa precisa olhar para si mesma e muitas vezes esse processo requer auxílio de um psicólogo clínico especializado e/ou de uma equipe que estimule o cuidado dessa pessoa consigo mesma. Afinal quem não ama e não cuida de a si mesmo não consegue amar outras pessoas.
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